REPÓRTER DA GLOBO É LIBERTADO APÓS 40 HORAS SEQÜESTRADO

<IMG style="WIDTH: 110px; HEIGHT: 72px" alt="" hspace=3 src="http://www.acaert.com.br/images/stories/btn-portanova.jpg" align=left vspace=3 border=0>O repórter da Globo Guilherme Portanova, 30, foi libertado por volta das 0h30 desta segunda-feira, no bairro do Morumbi (zona oeste de São Paulo), após cerca de 40 horas seqüestrado. Ele foi libertado após a emissora concordar em exibir um vídeo da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) criticando o sistema penitenciário.

14/08/2006

Deixado numa rua do Morumbi, Portanova conseguiu carona com um carro que o deixou na sede da Globo em São Paulo, no Brooklin (zona sul), por volta de 1h. Ele entrou pelo portão 2 da emissora e permanecia no local até as 2h. "Ele está bem e conversa com parentes", afirmou o repórter César Tralli, que exibiu imagens de Portanova, aparentemente bem e sem ferimentos, num plantão jornalístico exibido à 1h50.

O repórter foi seqüestrado nas proximidades da sede da Globo, às 8h de sábado (12). Os criminosos também levaram o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado, 27, que acabou libertado por volta das 22h30 do mesmo dia, a menos de um quilômetro da emissora, na avenida Luis Carlos Berrini. Os criminosos deixaram um DVD com Calado e determinaram que o técnico levasse o disco à cúpula da TV para transmissão imediata. Caso contrário, o repórter seria morto. "A vida do teu colega está na tua mão", disseram os criminosos. A Folha de S.Paulo apurou que o técnico e sua família também foram ameaçados. As imagens do DVD foram divulgadas à 0h28 de domingo (13), mas durante o dia não houve mais nenhum contato dos seqüestradores.

Vídeo
No vídeo exibido pela Globo, um suposto integrante do PCC faz críticas ao sistema penitenciário em frente a uma parede pichada. Ele pede um mutirão para revisão de penas, melhores condições carcerárias, e se posiciona contra o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Leia a íntegra.

A Globo exibiu o CD em rede estadual e editou as imagens. Cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov. O vídeo foi transmitido no intervalo do "Supercine", que, na Grande SP, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no "Fantástico".

A Folha de S.Paulo recebeu na quarta-feira (9) uma cópia do CD, cuja autenticidade não era comprovada. Relatou parte do seu conteúdo em reportagem publicada na quinta. Uma outra cópia do CD foi jogada, na sexta-feira, no estacionamento do SBT, que a encaminhou à Promotoria. Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003. O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.

Captura
No dia do seqüestro, o repórter e o auxiliar técnico haviam passado na padaria cerca de uma hora após chegar à emissora. Eles deixavam o local rumo a uma caminhonete da Globo quando, segundo testemunhas ouvidas pela Folha, foram abordados por dois homens armados que também estavam no estabelecimento. Um dos homens os fez entrar em um Vectra escuro; o outro entrou em um Gol vermelho. Dois motoristas de um hotel próximo ao local chegavam à padaria no momento da ação e foram rendidos. Antes de fugir, um dos criminosos entrou no carro da Globo e mexeu nos equipamentos de televisão que lá estavam, mas nada levou.

O Vectra foi encontrado por volta das 8h15 na avenida Portugal, no Brooklin (zona sul de São Paulo). Ele havia sido roubado no último dia 10. Segundo testemunhas ouvidas pela polícia, os criminosos tiraram os funcionários da Globo do veículo e, com eles, entraram no Gol vermelho. Em seguida, o homem que estava na moto ateou fogo no Vectra e fugiu.

Perícia
O vídeo foi encaminhado para perícia em busca de digitais. A voz foi comparada com diálogos de seqüestradores gravados pela polícia, sem sucesso.

A polícia requisitou também imagens das câmeras das rodovias a fim de tentar descobrir se o Gol utilizado no seqüestro deixou a cidade. O diretor de jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgê, disse que a decisão de atender a reivindicação dos criminosos foi da emissora, sem participação do governo de São Paulo ou da polícia. Em nota, a emissora informou ter sido orientada por órgãos internacionais a ceder à pressão.

Em choque
Aos familiares e à polícia, o auxiliar técnico Alexandre Calado disse ter ficado "apavorado" durante o seqüestro. Estava em choque ao ser encontrado. Ele foi levado para um hotel, pela Globo, em local não divulgado. Ontem, a mãe dele, Terezinha, foi acompanhá-lo."Ele está muito abalado", disse a irmã, a operadora de telemarketing Jéssica Coelho Calado, 25. Calado é o mais velho de três irmãos. Namora há cerca de cinco anos com Ester. Vive com a mãe, as duas irmãs, o cunhado e uma sobrinha num sobrado simples, ainda em construção, na periferia.

Fonte: Folha de São Paulo

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