O calendário marcava 7 de setembro de 1922 e comemorava o centenário da proclamação da Independência. Com discurso do então presidente Epitácio Pessoa, a primeira transmissão oficial de rádio no País foi realizada com alto-falantes espalhados por São Paulo e Rio de Janeiro.
07/09/2012(06/09/12)
No dia 7 de setembro de 1922, o País celebrava os primeiros cem anos de existência fora das amarras do governo português. A cidade do Rio de Janeiro, então capital federal, comemorava a data com alguns eventos oficiais entre eles uma exposição que trazia, pela primeira vez ao território nacional, os principais aparelhos e instrumentos da tecnologia da radiodifusão, que já haviam atingido uma escala considerável em território norte-americano. Para demonstrar o funcionamento do principal invento da época, uma transmissão experimental foi realizada, tendo como palco o tradicional Teatro Municipal. Dali o público ouviu a voz do então presidente, Epitácio Pessoa, declamando as vantagens daquela nova tecnologia, seguida dos arranjos da ópera O Guarani, obra do compositor Carlos Gomes. Esses foram os sons da primeira transmissão radiofônica oficial da História do Brasil.
Se fosse possível transportar essa cena para a atualidade, 90 anos depois, as paredes do Municipal cairiam, deixando a transmissão sem barreiras geográficas. As prováveis caixas retransmissoras do som dariam lugar aos fones de ouvido de celulares ou iPods. E ninguém seria obrigado a ouvir o discurso do presidente ou ópera. As opções de emissoras, sites, canais e arquivos musicais são tantas que, talvez, sejam necessários outros 90 anos para que alguém consiga consumir tudo o que a indústria radiofônica oferece. O mais maduro dos meios eletrônicos brasileiros completa nove décadas de existência tendo como trunfo os próprios frutos de seus longos anos de experiência. Afinal, o rádio assistiu ao surgimento e, em alguns casos, até ao declínio de diversos outros meios de comunicação. As várias vidas do rádio, no entanto chegam aos 90 anos em busca de um novo propósito. O meio que, historicamente, já provou sua força, entra no momento de provar que tem flexibilidade e capacidade de rever sua função, tecnologia e, até mesmo, a sua concepção.
Confira na linha do tempo abaixo os principais momentos e fatos que marcaram a História do meio rádio em seus 90 anos de existência:
1983 Do alto da Avenida Paulista, o padre gaúcho Landell de Moura realiza a primeira experiência radio-telefônica no Brasil, transmitindo um sinal de voz até o Morro de Santana uma distância de oito quilômetros. Embora difira do modelo de transmissão de rádio, o experimento de Landell é considerado o passo inicial do meio Rádio no País.
1922 Em setembro de 1922, quando o Brasil celebrava o centenário de sua independência, uma feira comemorativa, no Rio de Janeiro, trouxe aquilo que era o assunto do momento nos Estados Unidos: a tecnologia da radiodifusão e seus aparelhos. Uma transmissão experimental foi realizada direto do Teatro Municipal. O público ouviu o pronunciamento do presidente Epitácio Pessoa e a ópera o Guarani, de Carlos Gomes.
1923 Empolgado com a inovação mostrada na feira, o médico e professor Roquette Pinto convence a Academia Brasileira de Ciência a adquirir os primeiros equipamentos de rádio, criando, na sequência, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, a primeira emissora do Brasil. Sua programação era composta de ópera e recitais de poesia.
1924 No dia 1º de junho é fundada a Rádio Clube do Brasil, a primeira do País que conseguiria autorização do governo para transmitir anúncios publicitários e contar com a participação de artistas. Nessa época, a exploração publicitária nas transmissões radiofônicas ainda era proibida.
1927 O advento das mesas de controle de som (que permitiam que um toca-discofosse executado diretamente, sem a necessidade de captação do áudio via microfone)marca o início da era eletrônica do rádio.
1930 O rádio começava, aos poucos, a se tornar um veículo mais popular. Em SãoPaulo, porém, o prelo de um aparelho ainda correspondia a quase um sexto da rendamensal de uma família de classe média da época.
1931 Nasce a Rádio Record, em São Paulo.
1932 O governo do presidente Getúlio Vargas autoriza as inserções publicitárias, inaugurando assim o atual modelo de mídia comercial. Na época, somente 10% da grade poderia ser ocupada por comerciais (atualmente, esse índice é de 25%). Nesse mesmo ano, o governo também passa a distribuir concessões de canais a empresas privadas e a indivíduos.
1934 Algumas emissoras, como a Philips, começam a explorar os anúncios publicitários de outra maneira. Os apresentadores Adhemar Casé e Nássara criam os primeiros modelos de jingles publicitários. É inaugurada a Rádio Mayrink Veiga, que seria uma das maiores emissoras do Rio de Janeiro.
1936 Entra no ar a Rádio Nacional, que seria a de maior sucesso na chamada Era de Outo do meio no Brasil. Responsável pelo lançamento dos maiores nomes da música nacional, conquistou tanto sucesso que chegou a ser utilizada pelo presidente Vargas como ponto de apoio de sua campanha política.
1937 Assis Chateaubriand inaugura a rádio Tupi, uma das maiores do Brasil.
1941 Entra no ar o Repórter Esso, o primeiro programa de jornalismo da História do rádio brasileiro. Patrocinado pela Esso do Brasil, contava com um repórter que informava as principais notícias do dia, com destaque para a participação do País na Segunda Guerra Mundial. Após a exibição de diversos radioteatros, a Rádio Nacional veicula a primeira radionovela do País: Em Busca da Felicidade.
1944 No Rio de Janeiro é inaugurada a Rádio Globo.
1948 Inicia-se a fase áurea dos programas de auditório, na qual nomes como Emilinha Borba, Marlene e Dalva de Oliveira cativavam os ouvidos e a imaginação dos ouvintes.
1951 A radionovela O Direito de Nascer se torna o primeiro fenômeno de audiência do rádio brasileiro. A Rádio Nacional ficou em destaque com a exibição de 314 capítulos, que mantiveram a novela no ar por mais de três anos.
1962 É realizada a primeira transmissão de rádio via satélite. Em novembro, é criada a a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
1968 Chega ao fim a era do Repórter Esso no rádio. Após apresentar o programa por muitos anos, o locutor Gontijo Theodoro despede-se do público.
1970 Ainda de forma tímida, as emissoras de frequência FM começam a se instalar no País. 1991 Com o slogan A Rádio que Toca Notícia, o Sistema Globo de Rádio inaugura a CBN, com a proposta de veicular jornalismo 24 horas por dia.
1995 Com a difusão da internet no Brasil, inicia-se a era da transmissão das emissoras para o ambiente online. De início com sites tímidos e de poucas funcionalidades, as rádios foram, aos poucos, fazendo da web uma extensão do dial.
1996 A CBN é a primeira rádio de notícias a ser transmitida na frequência FM.
2004 A operadora de telefonia Oi dá o passo inicial da nova era das rádios customizadas, com a participação de anunciantes que dão nome e estilo ás emissoras. Na sequência, surgiram outros exemplos, como a Sul-América Trânsito, Sul-América Paradiso, Mitsubishi FM, Fast 89, entre outras.
2012 No momento em que completa 90 anos, o rádio atravessa a fase final da definição de seu modelo digital. Governo promete que, até o fim do ano, as diretrizes para a digitalização estejam definidas. Nesse mesmo ano, também, o País ganha o primeiro Grand Prix de rádio no Festival de Criatividade de Cannes. A peça vencedora foi desenvolvida pela Talent para a revista Go Outside, que usava uma frequência radiofônica imperceptível ao ouvido humano, mas que conseguia ter um efeito repelente aos mosquitos. (Meio & Mensagem)