<P>No mês em que o rádio comemora 90 anos da primeira transmissão no Brasil, o ministro das Comunicações Paulo Bernardo afirmou em entrevista exclusiva à Abert, ser favorável ao projeto que flexibiliza o horário de veiculação do programa A Voz do Brasil nas rádios do país. A medida estabelece que as emissoras poderiam exibir o programa com início entre 19h e 22h. Produzida pela Empresa Brasileira de Comunicação, a Voz do Brasil existe desde a década de 1930 e veicula notícias institucionais dos três Poderes. Conforme Bernardo, a flexibilização democratiza a oportunidade do ouvinte de escolher sua programação.</P>
17/09/2012(17/09/12)
Ao exaltar os 90 anos do rádio no país, o ministro afirma ser fã do meio de comunicação. Sou fã e defendo a sua longevidade diante do fenômeno de aceitação do público e dinamismo que proporciona informação a milhares de ouvintes. Ele disse ainda que existem 300 milhões de aparelhos no país. O rádio atravessou o século 20 com grandes contribuições, seja na área cultural, política e econômica. Muito já se falou que o rádio estaria acabando, porém o que vemos é que, mesmo com tanta tecnologia, ele continua firme na cozinha, no carro, nas caminhadas, na mesa do bar, enfim, em todos os lugares, afirma.
O ministro disse ainda que a escolha do padrão digital de rádio a ser adotado no Brasil deverá ficar para o próximo ano, para evitar precipitação na análise da alternativa mais adequada ao mercado de radiodifusão.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Quais perspectivas o senhor vê para o rádio que completa 90 anos em um ambiente de convergência tecnológica?
O rádio no Brasil e, acredito que em outros países também, é um fenômeno de aceitação de público, de sucesso, de dinamismo. Nós temos rádios que já completaram 90 anos, mas também com décadas de existência, e com enorme respeitabilidade, com agilidade no trato da informação. Então, se pensarmos no desenvolvimento pleno da tecnologia, da internet, quando as pessoas ficam com seus telefones, tabletes buscando informação momentânea, e compararmos com as mídias tradicionais, vemos que o rádio continua como um grande meio de propagação. Nós temos um público ouvinte quase universalizado. Quase todas as residências têm um rádio, e se multiplicarmos isso pelos outros dispositivos, estima-se em 300 milhões de aparelhos receptores de rádio no Brasil.
As emissoras estão presentes em todos os municípios. O rádio é o meio mais próximo das pessoas, por isso, tem maior vinculação com os problemas comunitários. As grandes cadeias transmitem todos os acontecimentos do planeta também com muita competência. Quem de nós não tem boas lembranças de programas de rádio? Lembro- me que em 1958 ouvi a transmissão da Copa do Mundo, ouvi o Brasil ser campeão mundial pelo rádio. Isso marca a vida da gente. Os locutores de rádio que fazem futebol são muito versáteis, descrevem tudo em 30 segundos, então era bem estimulante, foi ótimo ter vivido essa experiência.
Temos também as grandes revelações musicais, sem contar as novelas. Na minha casa, passei a ter televisão quando já tinha 14 anos de idade, eu morava no interior, e a TV ainda não era tão presente.
Mas as pessoas podem utilizar o rádio de diversas maneiras, no carro, cozinhando, caminhando, trabalhando. Já a televisão não temos como ter acesso em todos os lugares, principalmente nos veículos automotivos.
Acho que temos que criar condições para que isso continue, o rádio é um fenômeno cultural de comunicação de massa. Então, a tarefa do governo é fazer boas políticas para que o rádio continue se desenvolvendo.
2) O projeto de flexibilização da Voz do Brasil só precisa ser votado no plenário da Câmara. Qual a sua opinião sobre o assunto?
Eu já manifestei a minha opinião no governo do ex-presidente Lula, quando aconteceram negociações, e à época o governo deu a sua aprovação para a tramitação. Não para acabar com o programa, mas para fazer uma flexibilização no horário entre 19h e 22h. Assim as emissoras escolheriam o horário para fazer essa transmissão. A minha opinião é que se o Congresso aprovar o governo tem que sancionar. É claro que dentro do Congresso tem gente a favor e também contra a flexibilização. A flexibilização valeria muito a pena, acho que não prejudicaria a divulgação dos trabalhos do Congresso, do Poder Executivo e do Judiciário, até porque não deixaria de existir.
3) Como está a análise da migração do rádio AM para os canais 5 e 6 na área técnica do Ministério?
Estamos fazendo a avaliação técnica mais afinada. Somos favoráveis e achamos que essa migração tem que ser feita, pois não vai prejudicar ninguém, as emissoras que estão em faixas mais altas não serão prejudicadas, as AMs serão reacomodadas. Acredito que assim vamos resolver o problema de rádios que têm décadas de funcionamento. Já visitei emissoras com 75 anos de existência, algumas delas são legendas, as pessoas no interior sempre ouviram, gostam e querem continuar ouvindo.
Nós temos o processo de escolha do rádio digital, sobre o que ainda não formamos convicção. A digitalização do rádio é muito mais complicada, porque a emissora tem que ter inicialmente a transmissão analógica, como é hoje, e tem que ter a transmissão digital. Precisa de investimento e a nossa preocupação é com as pequenas emissoras, aquelas que estão no interior do Brasil. E também com o usuário do rádio que precisa ter o receptor digital. Então, essa transição tem que ser muito bem pensada. O que estamos achando é que vamos resolver o problema das rádios que transmitem em AM, nesse percurso vamos continuar discutindo a digitalização do rádio, até porque se quisermos fazer com mais velocidade podemos ter um problema tanto na recepção quanto na transmissão, além de problemas econômicos para fazer a migração por parte dos empresários e dos ouvintes. Quanto (à migração) dos canais 5 e 6 somos favoráveis, acho uma boa medida, as rádios merecem por prestar um excelente serviço.
3) Está confirmada a previsão de anunciar da digitalização do rádio ainda este ano?
Podemos adiar um pouco a decisão porque nós precisamos ter certeza do modelo a ser adotado, que ele seja viável do ponto de vista de todas as emissoras, não somente das grandes redes de rádio. Precisamos planejar também a transição para as pessoas. É muito bom que o Congresso nos passe o estudo que está sendo elaborado pela Subcomissão do Rádio, que está sendo elaborado na Câmara. Vamos chamar os radiodifusores, a indústria de rádio, precisa-se de recurso pra fazer essa transição, então tem que ter todo um planejamento, vamos viver por alguns anos com os dois sinais.
4) O senhor acha que falta reconhecimento ao padre Landell de Moura pela criação do rádio?
Sim. Sempre fui fã do rádio, assim como 70% da população brasileira. É preciso lembrar que o padre Landell de Moura, nascido no Brasil, desenvolveu a tecnologia de transmissão do rádio. Hoje é comprovado que foi o primeiro a desenvolver, antes do Guglielmo Marconi. O padre, infelizmente, não teve apoio, porque na época não existia política pública no Brasil. Se tivesse um pouco de financiamento para patentear e produzir os equipamentos, com certeza, o Brasil também seria considerado o pai do rádio, assim como também somos o país da aviação, com Santos Dumond, mas que não foi reconhecido porque, na época, não tínhamos políticas para isso. Nós, brasileiros, não podemos deixar de reconhecer que o Landell foi o inventor do rádio, a primeira pessoa a fazer a transmissão radiofônica há mais de 100 anos.
Assessoria de Comunicação da Abert