Entretanto há muita preocupação com desinformação e interesse por mídias mais imparciais
29/06/2021O Brasil
está entre os sete países nos quais a população mais confia na imprensa dentre
os 46 pesquisados pelo Instituto Reuters de Estudos de Jornalismo da
Universidade de Oxford. Mas é também o país mais preocupado com a desinformação
(82%), o mais preocupado com o WhatsApp como canal de fake news sobre a Covid (35%) e o que mais associa os políticos à
desinformação sobre a doença (41%).
As
conclusões são da 10ª edição do Digital News Report, apresentado na última
quarta-feira (23) em Londres. O estudo é baseado em uma pesquisa com 92 mil
pessoas de 46 países, realizada em 2020, representando as opiniões de mais da
metade da população mundial. A pesquisa aponta que 54% dos brasileiros afirmam
confiar na imprensa. O país com maior percentual de confiança é a Finlândia
(65%), enquanto os norte-americanos são os que menos confiam (29%).
Fonte: MediaTalks
O relatório, que está em sua décima edição, é a mais abrangente investigação global sobre hábitos de consumo de notícias, confiança e acesso às fontes de informação e desinformação, modelos de negócios e sobre os rumos do jornalismo mundial. Um dos pesquisadores da equipe que o formulou, Charles Berkley, afirma que estamos num momento crucial que definirá a próxima década:
“O choque da Covid, combinado com a aceleração da mudança tecnológica, está levando a transformação de nossa atividade ao ápice, forçando um repensar mais fundamental sobre como o jornalismo deve operar na próxima década, tanto como um negócio em termos de tecnologia, mas também como profissão.”
O Brasil foi o país que mais teve maior crescimento no índice de confiança, o qual aumentou três pontos em relação ao ano anterior. Além disso, a média global cresceu 6 pontos. O resultado reverte uma tendência de queda que vinha se verificando nos últimos anos, demonstrando que o ganho de confiança da população na imprensa identificado por pesquisas realizadas no início da pandemia.
Nas notícias recebidas pelos mecanismos de busca e pelas mídias sociais os números continuaram estáveis. Isso fez com que a diferença entre as notícias via imprensa e as recebidas por mídias sociais aumentasse, chegando a 20 pontos tanto na média global como nos índices do Brasil. Segundo o estudo, quanto maior essa diferença, maior a valorização que os usuários dão às fontes de notícias mais acuradas e confiáveis.
Apesar da
diferença entre os finlandeses que mais confiam e os norte-americanos que menos
confiam na imprensa, quando se fala no percentual de assinantes nos dois
países, os números são quase iguais: 21% nos Estados Unidos e 20% na Finlândia.
O estudo
mostra que a grande maioria dos consumidores ainda não paga pelo acesso às
notícias. A maior parte de assinaturas se concentram nas poucas marcas de
veículos nacionais de notícias.
O
percentual médio de assinantes nos 20 países analisados é de 17%, cinco pontos
acima do que em 2016. A pesquisa mostra que o percentual brasileiro está
alinhado com essa média. O país de maior sucesso com assinaturas é a Noruega,
onde 45% da população assina pelo menos um veículo, seguida pela Suécia, com
30%.
Fonte: MediaTalks
Embora a
confiança na imprensa tenha aumentado, continua grande a quantidade de pessoas
preocupadas com as fake news aqui no
Brasil. Seis em cada dez dos entrevistados (58%) expressou preocupação em
diferenciar o que é verdadeiro ou falso na internet quando se trata de
informação. O Brasil aparece como o país com o maior índice (82%) de pessoas
preocupadas com a desinformação pela internet, enquanto a Alemanha, com 37%, é
a menos preocupada.
Principalmente
devido ao extremismo político, o estudo identificou sinais de leitores
abandonando marcas de notícias e até a imprensa em geral, principalmente nos
Estados Unidos, entre os politicamente alinhados à direita.
Mas apesar
de mais opções de veículos com viés partidário e da maior polarização, a
maioria da amostra global (74%) continua preferindo veículos que reflitam
vários pontos de vista e deixem ao leitor decidir o que pensar.
Fonte: MediaTalks
A maioria
dos entrevistados também pensa que os veículos devem ser neutros em relação a
cada tema e dedicar cobertura igual a todos os pontos de vista, embora alguns
grupos mais jovens achem que a imparcialidade não seja desejável em alguns
casos, como nas questões de justiça social.
O acesso online à imprensa (seja pelos sites dos veículos de comunicação ou por seus canais de mídia social) se mantém na liderança com ampla margem no Brasil. Mais de oito em cada dez brasileiros preferem o acesso online na hora de buscar notícias.
Na segunda
colocação, o estudo mostra o acesso às notícias pelas mídias sociais à frente
da TV, que já tinha perdido a vice-liderança no ano passado. Quase a metade dos
entrevistados brasileiros (47%) disse que costuma compartilhar notícias pelas
redes sociais, apps de mensagens ou por e-mail.
Na última
colocação aparecem os impressos, aprofundando ainda mais a sua crise e caindo a
quase metade do índice do ano anterior. Pouco mais de um em cada dez
brasileiros acessam notícias pela via impressa – um percentual sete vezes menor
do que os que acessam por via online.
Fonte: MediaTalks
Os
brasileiros mostraram maior preocupação com as fake news veiculadas pelo WhatsApp. Mais de um terço dos
brasileiros (35%) citaram essa plataforma, com um índice quase o dobro do que o
Facebook, o segundo colocado. Isso porque, são aplicativos de mensagens
fechadas, em que as informações falsas tendem a ser menos visíveis e mais
difíceis de combater.
Os
percentuais das demais redes (Twitter, YouTube e Google) foram muito baixos,
pouco associados à veiculação das fake news ligadas ao vírus.
Fonte: MediaTalks
Facebook e
WhatsApp foram apontados como os principais canais online de desinformação.
Citada por
54% da amostra global, a pandemia continua como o tema mais associado à
desinformação. Outros temas citados com índices relevantes foram as notícias
falsas ligadas a temas políticos, a celebridades e à mudança climática.
As
principais fontes de fake news
associadas à Covid-19 foram os políticos. O Brasil foi o país com o maior
índice (41%) de associação da pandemia com os políticos, seguido por Espanha,
Polônia e Nigéria.
As pessoas comuns foram a segunda fonte de notícias falsas sobre a Covid-19 mais citadas, mas com quase metade do índice dos políticos. Em seguida aparecem os ativistas, jornalistas e governos estrangeiros.
Repórter: Media Talks