Não é incomum que outros segmentos interpretem dados positivos do rádio como indicativo de uma possível decadência do veículo
27/10/2023Sempre me questiono se não estou sendo parcial a favor do rádio ao analisar uma nova pesquisa sobre o consumo deste meio em diversos locais e situações. Busco interpretar da maneira mais neutra possível, tentando sair da minha bolha e adentrar outras. Não seria justo cobrar essa mesma postura de outros grupos, como os compradores de mídia e agentes de marketing. Preciso fazer o inverso para ter uma noção mais próxima do caminho que o consumo de rádio está tomando. E, nesta última semana, fiz mais um esforço nesse sentido, tentando separar os fatos para entender o que está acontecendo. E, no final das contas, o cenário é, sim, positivo para o rádio, mesmo que não pareça. E eu explico:
Recebi um levantamento da Edison Research que mostra o
consumo de rádio nos EUA em automóveis equipados com sistemas operacionais como
Apple CarPlay e Android Auto. Este dado era contrastado com números de carros
que não possuem essas tecnologias. Obviamente, tais sistemas facilitam o acesso
a conteúdos conectados, como podcasts e streaming, muitas vezes substituindo a
tela principal do sistema de entretenimento do veículo, algo que não agrada às
montadoras, que desejam priorizar seus próprios sistemas.
Apesar da facilidade de acesso ao streaming, o rádio
representa quase metade do total de consumo de mídia nesses veículos com
CarPlay e Android Auto. E, claro, ouvir streaming não faz de você alguém que
não consome rádio, e vice-versa. Em muitos casos, o rádio opera em segundo
plano nesses sistemas, mas ainda é a mídia de maior preferência para os
usuários que têm acesso a essas tecnologias. E a movimentação de gigantes, como
Apple e Google, é no sentido de ampliar a integração com o hardware do automóvel,
trazendo, por exemplo, o rádio FM para a tela do CarPlay, aumentando a
exposição desse meio.
Bem, com isso dito, tudo parece maravilhoso, certo? Não
exatamente. Parte do jornalismo especializado em tecnologia interpretou o dado
do rádio como um sinal de decadência, apesar de seu consumo ser mais do que o
dobro em relação ao streaming nesses sistemas. E muitos desconsideram que o
vice-líder é a SiriusXM, um serviço de rádio via satélite dos EUA, que não tem
equivalente no Brasil. Neste caso, possivelmente a parcela do streaming possa
ser maior, mas a do rádio também (e mais provável que seja, pela facilidade de
acesso e a gratuidade).
Isso lança luz sobre a necessidade de o jornalismo especializado analisar dados fora de suas bolhas e tentar compreender os cenários de forma imparcial. Naturalmente, procuramos respostas para o futuro, que é repleto de incertezas e desafios. E quem se posiciona como guia nesse cenário detém uma vantagem informacional.
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Claro, há variações no consumo ao longo do tempo, indicando tendências, mas elas podem se estabilizar. E tudo pode mudar com a eventual dominância dos carros autônomos. Porém, se o consumo de rádio em casa e no trabalho é alto, as projeções para o futuro se tornam ainda mais incertas.
Eu sou fã de tecnologia, ainda mais essas embarcadas em veículos. E também observo o meu consumo e confronto com o de outras pessoas, de diferentes localidades, situações econômicas, etc. Noto que o rádio FM é bem presente na minha vida no carro e no meu lazer, que é uma escolha minha de girar o dial, mas no dia a dia em casa e no trabalho, o streaming de rádio é a escolha “mais na mão”, até por causa do tudoradio.com.
No final das contas, o rádio é o que é pelo seu conteúdo e facilidade de acesso. Só veremos um consumo de mídia 100% online quando isso for igualmente acessível a todos. Hoje, o rádio via ondas tem conversado bem com essas soluções que estão surgindo na nossa rotina e a sua adaptação ao digital amplia suas possibilidades de consumo.
Repórter: TudoRádio