O equipamento é o primeiro para emissão de rádio digital fabricado no Brasil e será testado em caráter experimental e científico
28/09/2020A radiodifusão brasileira começa a entrar em uma nova era a partir da próxima segunda-feira (21/09/2020). Um transmissor de rádio digital desenvolvido e fabricado em Porto Alegre pela BT Transmitters chega ao Parque do Rodeador, em Brasília, para ser conectado a uma das enormes antenas da Rádio Nacional da Amazônia (veja foto). O equipamento é o primeiro para emissão de rádio digital fabricado no Brasil e será testado em caráter experimental e científico.
Conteúdo original em http://www.radiolab.blog.br
Fazem parte da iniciativa a Universidade de Brasília (UnB) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações. Será utilizado o sistema DRM (Digital Radio Mondiale), criado por emissoras como BBC, Voice of America, Radio France, a japonesa NHK e muitas outras em todos os continentes. Portanto, é um sistema mundial, e não europeu como muitos insistem em dizer. Europeu é o DAB.
A Rádio Nacional da Amazônia transmite de Brasília especialmente para a Região Norte do Brasil. O sinal também é captado em todas as regiões e em outros países, mas o foco, como o nome diz, é a Amazônia. Lá vivem cerca de 7 milhões de ribeirinhos e indígenas que hoje estão distantes de qualquer outro meio de comunicação. As distâncias são gigantescas e em muitos locais não há cobertura de celular ou internet. O preço da internet por satélite é estratosférico. A emissão da RNA é feita no antigo sistema de ondas curtas, que atinge longas distâncias, mas isso não é problema para quem tem na Nacional da Amazônia a sua principal, e em muitos casos, única fonte de informação.
A emissora transmite desde 1977 e tem raízes sólidas. Em 2017, raios danificaram a subestação de energia que alimenta seus transmissores, tirando-a do ar por alguns meses. As reclamações chegavam aos borbotões na sede da rádio. Caciques e líderes ribeirinhos redigiram um manifesto exigindo empenho para o seu retorno ao ar. Foram tomadas soluções provisórias, com o uso de geradores para emissões só em algumas horas por dia, até que, finalmente, em 2020, o sinal foi restabelecido.
A Nacional da Amazônia, as Nacional do Rio e de Brasília e as rádios MEC são administradas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ligada ao governo federal. No mês passado, a EBC realizou licitação para a compra, entre outros, de dois transmissores de ondas curtas para a Amazônia, equipamentos esses que devem estar preparados para a entrada do Brasil na era do rádio digital. No caso das ondas curtas, o único sistema digital existente é o DRM.
Antes que esses transmissores sejam efetivamente comprados e entrem em operação, divulgamos em primeira mão, na semana passada, a construção do transmissor a ser testado em caráter experimental e científico, usando a antena e o áudio da Nacional da Amazônia. É preciso abrir parênteses para lembrar que a TV aberta brasileira iniciou seu processo de digitalização em 2007. Uma pergunta que deve ser feita é: por que o rádio ainda não foi digitalizado no Brasil?
O rádio digital em ondas curtas para a Amazônia seguramente vai garantir um novo patamar para as comunicações na Região Norte. A programação da Nacional é ao mesmo tempo popular e educativa. Leva informações de serviço muito importantes aos cidadãos, e não “somente” aos milhões de ribeirinhos, mas a toda a comunidade. Com a adoção do rádio digital, acabará um dos grandes problemas existentes hoje. A má qualidade de som que é observada em alguns momentos devido a condições atmosféricas que afetam a propagação dos sinais. O DRM transmite em onda curta com qualidade similar a uma emissora FM local.
Além disso, mais do que som, o novo sistema oferece a possibilidade de transmissão de imagens e texto. Ou seja, enquanto está escutando uma música, o ouvinte pode conferir as últimas manchetes, resultados do futebol, avisos de utilidade pública, previsão do tempo e qualquer outra informação que se deseje incluir. Também o DRM permite que em uma mesma frequência sejam oferecidas três ou quatro programações diferentes. Uma delas pode estar totalmente dedicada a aulas via rádio, movimento que ressurgiu em muitas emissoras Brasil afora durante a pandemia de coronavírus.
Outro aspecto relevante é a economia de energia que será obtida com a transmissão digital. Para alcançar a mesma área, é necessário menos da metade da potência exigida no sistema analógico, ou até bem menos que isso. Estudos ainda estão sendo feitos para verificar o percentual exato de economia.
Além das ondas curtas, todas as faixas de frequência da radiodifusão são atendidas pelo DRM, inclusive emissoras de baixa potência, como as rádios comunitárias em FM.
O sistema DRM vem sendo testado e adotado em diversos países de todos os continentes. É uma opção importantíssima para a transmissão de informações sem necessidade de estar atrelado à infraestrutura de internet e sem custo para o receptor. Vai da antena do emissor direto para a antena do cidadão, de graça.
“Não coloque todos os ovos na mesma cesta.” O tradicional provérbio da economia se aplica a diversas outras áreas humanas. Uma delas é a comunicação. Os incríveis avanços que a internet trouxe nos últimos 25 anos em quase todas as atividades fazem muitos pensarem que ela é a solução para tudo. No entanto, por ser uma intrincada rede de conexões por cabos, satélites, antenas e gigantescas instalações de infraestrutura, ela apresenta alguns pontos de vulnerabilidade. Sem falar que sempre é um produto pago.
Seria inteligente abandonar um tipo de transmissão gratuito e praticamente universal? Não por apego ao passado, mas por ser uma alternativa necessária a garantir a transmissão de informações. É fundamental manter alternativas de comunicação de qualidade, evoluídas e confiáveis.
Trata-se, no momento, apenas de um teste específico para a Amazônia, região ainda grande usuária das gratuitas ondas curtas, onde o rádio comercial, a telefonia (paga) e a internet (paga) não chegam. DRM tem mais alternativas além do broadcasting. EAD é uma delas, pois, além do som, carrega imagens. É uma tecnologia promissora e que deve ser melhor considerada. Grande economia de energia é só um exemplo. Em crise sempre estivemos, a atual é a mais grave, claro, mas não é por isso que os avanços devem deixar de ser testados. Principalmente um que seja fora da internet.
Confira o vídeo com áudio do teste DRM em onda curta em https://youtu.be/Sw2oRgRaR6E
Reportagem e fotos de Lucio HaeserA radiodifusão brasileira começa a entrar em uma nova era a partir da próxima segunda-feira (21/09/2020). Um transmissor de rádio digital desenvolvido e fabricado em Porto Alegre pela BT Transmitters chega ao Parque do Rodeador, em Brasília, para ser conectado a uma das enormes antenas da Rádio Nacional da Amazônia (veja foto). O equipamento é o primeiro para emissão de rádio digital fabricado no Brasil e será testado em caráter experimental e científico.
Fazem parte da iniciativa a Universidade de Brasília (UnB) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações. Será utilizado o sistema DRM (Digital Radio Mondiale), criado por emissoras como BBC, Voice of America, Radio France, a japonesa NHK e muitas outras em todos os continentes. Portanto, é um sistema mundial, e não europeu como muitos insistem em dizer. Europeu é o DAB.
A Rádio Nacional da Amazônia transmite de Brasília especialmente para a Região Norte do Brasil. O sinal também é captado em todas as regiões e em outros países, mas o foco, como o nome diz, é a Amazônia. Lá vivem cerca de 7 milhões de ribeirinhos e indígenas que hoje estão distantes de qualquer outro meio de comunicação. As distâncias são gigantescas e em muitos locais não há cobertura de celular ou internet. O preço da internet por satélite é estratosférico. A emissão da RNA é feita no antigo sistema de ondas curtas, que atinge longas distâncias, mas isso não é problema para quem tem na Nacional da Amazônia a sua principal, e em muitos casos, única fonte de informação.
A emissora transmite desde 1977 e tem raízes sólidas. Em 2017, raios danificaram a subestação de energia que alimenta seus transmissores, tirando-a do ar por alguns meses. As reclamações chegavam aos borbotões na sede da rádio. Caciques e líderes ribeirinhos redigiram um manifesto exigindo empenho para o seu retorno ao ar. Foram tomadas soluções provisórias, com o uso de geradores para emissões só em algumas horas por dia, até que, finalmente, em 2020, o sinal foi restabelecido.
A Nacional da Amazônia, as Nacional do Rio e de Brasília e as rádios MEC são administradas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ligada ao governo federal. No mês passado, a EBC realizou licitação para a compra, entre outros, de dois transmissores de ondas curtas para a Amazônia, equipamentos esses que devem estar preparados para a entrada do Brasil na era do rádio digital. No caso das ondas curtas, o único sistema digital existente é o DRM.
Antes que esses transmissores sejam efetivamente comprados e entrem em operação, divulgamos em primeira mão, na semana passada, a construção do transmissor a ser testado em caráter experimental e científico, usando a antena e o áudio da Nacional da Amazônia. É preciso abrir parênteses para lembrar que a TV aberta brasileira iniciou seu processo de digitalização em 2007. Uma pergunta que deve ser feita é: por que o rádio ainda não foi digitalizado no Brasil?
O rádio digital em ondas curtas para a Amazônia seguramente vai garantir um novo patamar para as comunicações na Região Norte. A programação da Nacional é ao mesmo tempo popular e educativa. Leva informações de serviço muito importantes aos cidadãos, e não “somente” aos milhões de ribeirinhos, mas a toda a comunidade. Com a adoção do rádio digital, acabará um dos grandes problemas existentes hoje. A má qualidade de som que é observada em alguns momentos devido a condições atmosféricas que afetam a propagação dos sinais. O DRM transmite em onda curta com qualidade similar a uma emissora FM local.
Além disso, mais do que som, o novo sistema oferece a possibilidade de transmissão de imagens e texto. Ou seja, enquanto está escutando uma música, o ouvinte pode conferir as últimas manchetes, resultados do futebol, avisos de utilidade pública, previsão do tempo e qualquer outra informação que se deseje incluir. Também o DRM permite que em uma mesma frequência sejam oferecidas três ou quatro programações diferentes. Uma delas pode estar totalmente dedicada a aulas via rádio, movimento que ressurgiu em muitas emissoras Brasil afora durante a pandemia de coronavírus.
Outro aspecto relevante é a economia de energia que será obtida com a transmissão digital. Para alcançar a mesma área, é necessário menos da metade da potência exigida no sistema analógico, ou até bem menos que isso. Estudos ainda estão sendo feitos para verificar o percentual exato de economia.
Além das ondas curtas, todas as faixas de frequência da radiodifusão são atendidas pelo DRM, inclusive emissoras de baixa potência, como as rádios comunitárias em FM.
O sistema DRM vem sendo testado e adotado em diversos países de todos os continentes. É uma opção importantíssima para a transmissão de informações sem necessidade de estar atrelado à infraestrutura de internet e sem custo para o receptor. Vai da antena do emissor direto para a antena do cidadão, de graça.
“Não coloque todos os ovos na mesma cesta.” O tradicional provérbio da economia se aplica a diversas outras áreas humanas. Uma delas é a comunicação. Os incríveis avanços que a internet trouxe nos últimos 25 anos em quase todas as atividades fazem muitos pensarem que ela é a solução para tudo. No entanto, por ser uma intrincada rede de conexões por cabos, satélites, antenas e gigantescas instalações de infraestrutura, ela apresenta alguns pontos de vulnerabilidade. Sem falar que sempre é um produto pago.
Seria inteligente abandonar um tipo de transmissão gratuito e praticamente universal? Não por apego ao passado, mas por ser uma alternativa necessária a garantir a transmissão de informações. É fundamental manter alternativas de comunicação de qualidade, evoluídas e confiáveis.
Trata-se, no momento, apenas de um teste específico para a Amazônia, região ainda grande usuária das gratuitas ondas curtas, onde o rádio comercial, a telefonia (paga) e a internet (paga) não chegam. DRM tem mais alternativas além do broadcasting. EAD é uma delas, pois, além do som, carrega imagens. É uma tecnologia promissora e que deve ser melhor considerada. Grande economia de energia é só um exemplo. Em crise sempre estivemos, a atual é a mais grave, claro, mas não é por isso que os avanços devem deixar de ser testados. Principalmente um que seja fora da internet.
Confira o vídeo com áudio do teste DRM em onda curta em https://youtu.be/Sw2oRgRaR6E
Repórter: Reportagem e fotos de Lucio Haeser - RádioLab