Em ano imprevisível e difícil, rádio brasileiro reafirmou sua importância
Meio se mexeu e fez investimentos. Audiência e alcance cresceram. Rádio foi empático com sua audiência durante a pandemia
30/12/2020
Análise - Virou um clichê afirmar
que em janeiro passado, "ninguém poderia imaginar que teríamos uma
pandemia mundial em 2020". É verdade, mas a crise sanitária provocada pelo
coronavírus acabou reforçando algumas posições que já estavam ficando claras
para o mercado de rádio: necessidade de acompanhar o avanço tecnológico e a
manutenção da relevância do meio para a audiência. Foi um ano difícil, com
muitas derrotas na área comercial, mas o rádio brasileiro foi resiliente: se
mexeu, investiu em tecnologia, apostou em saídas para se adaptar à crise e teve
empatia com a dificuldade enfrentada por sua audiência.
Ficou bem clara a importância do
rádio para a população, algo que foi percebido já no começo da pandemia. Foi em
veículos como o rádio que a população buscou informações de credibilidade e
procurou um "ombro amigo" diante de uma enxurrada de incertezas para
2020. E o rádio correspondeu, de forma rápida e pró-ativa.
Lá em março, já era comum a
distribuição de álcool em gel para a proteção dos ouvintes. Mensagens de
orientação sobre o coronavírus era algo bem frequente. E, na sequência, rádios
de todos os formatos se uniram: seja na transmissão de mensagens de conforto
para a população, como também na formação de conteúdos para prestar serviço à
população.
Parece longe, mas é possível
lembrar da "União do Rádio contra a covid-19", com a execução
sincronizada da música Imagine, de John Lennon, levando uma mensagem de
esperança à população. E, redes jornalísticas abriram seus conteúdos para que
outras estações prestassem serviço sobre a pandemia.
Iniciativas de apoio aos
comerciantes locais, sejam eles médios e pequenos, foram situações comuns em
2020. Plataformas e redes de apoio foram criadas pelas emissoras brasileiras,
expondo mais uma vez a proximidade do rádio com a população.
De forma resumida, é possível
relembrar alguns pontos relevantes do rádio brasileiro em 2020. Acompanhe:
Multiplataforma em todas as
possibilidades
O rádio sempre foi
multiplataforma, nos mais diversos sentidos. E o avanço tecnológico deixou
ainda mais clara essa capacidade do veículo se adaptar. E uma tendência que já
era vista para 2020 foi ampliada com a pandemia. Emissoras de diferentes
formatos de programação entenderam isso e ampliaram a distribuição de conteúdo
em diferentes frentes.
O Grupo Jovem Pan, que já vinha
se destacando nessa área de entrega de conteúdo digital, lançou o PanFlix,
resultado de uma série de investimentos em estrutura, equipe e criação de
produtos. Fecha 2020 como um dos destaques do prêmio iBest (venceu em uma das
categorias que concorria), Google News Initiative, coleciona números
expressivos no digital, na audiência de rádio e expandiu suas redes (FM e
News).
O ano também contou com o
reposicionamento de uma tradicional rádio de São Paulo: a Rádio Bandeirantes. A
emissora alterou seu tradicional logotipo, mudou parte de sua programação,
investiu em equipe, passou a transmitir em formato multiplataforma e fecha o
ano com um recorde de alcance para a sua trajetória no FM paulistano. O
investimento multiplataforma também foi seguido pela Rede BandNews FM, que até
reformulou seu estúdio principal.
A CBN não ficou atrás. Acelerou
em podcasts (tem algumas das produções mais ouvidas da América Latina nesse
formato de entrega de conteúdo), promoveu mudanças em sua grade de programação
(com destaque para o período da tarde) e fechou 2020 com uma forte expansão de
sua rede nacional.
Nos quatro casos citados, a
atuação multiplataforma não fica clara apenas na entrega diferente de conteúdo,
mas também nos nomes que compõem essas equipes. Exemplo: nomes conhecidos da
televisão e de outras mídias retornaram ou estrearam nessas e em outras
emissoras. Ou seja, os profissionais de entretenimento e jornalismo também são
multiplataforma.
E ainda sobre os exemplos de atuação
multiplataforma de 2020, tem a chegada da CNN Brasil ao rádio. Uma parceria
entre a marca jornalística e a Rede Transamérica possibilitou a criação do
projeto CNN Rádio, ainda recente. Ele amplia o número de nomes conhecidos de
diferentes mídias que passam a fazer parte do dia a dia do rádio, contribuindo
assim para a relevância do meio.
Streaming avança
Palavrinhas como smart-speakers,
podcasts, streaming de áudio… nada disso é novidade para quem acompanha o meio
rádio. Mas tudo isso teve sua importância elevada de forma significativa em
2020. O streaming de áudio das emissoras tem crescido de forma expressiva, com
destaque para a 'explosão' de acessos verificada no primeiro turno das eleições
municipais. O volume de acessos já estava em alta desde o início da pandemia.
O avanço do streaming não
significa a queda do FM. Pelo contrário: está bem claro para o meio que o rádio
caminha para uma atuação híbrida, seja na entrega de conteúdo, como também na
aferição de seus resultados. O mundo caminha para isso: há um esforço grande de
montadoras automotivas na criação de receptores de rádio híbrido (que combina o
melhor dos três mundos: FM/AM/dados de internet). E empresas que buscam aferir
esses dados, como a Kantar Ibope Media, anunciam desenvolvimentos de soluções
híbridas.
Afinal, relevância o rádio tem.
Mas precisa mostrar seu poder para quem distribui as verbas de mídia. E
soluções híbridas podem ser uma saída.