Painéis reuniram especialistas, radiodifusores e entidades do setor em debates sobre estratégias artísticas, inteligência artificial, desafios técnicos e a experiência digital do ouvinte
22/08/2025No formato bate-papo, o painel discutiu de forma abrangente os desafios artísticos e estratégicos que as emissoras enfrentam em um ambiente marcado por transformações tecnológicas e mudanças no comportamento da audiência. Com moderação de Daniel Starck (diretor do tudoradio.com), o encontro reuniu Acácio Luiz Costa (AESP), Murillo Huada (Band FM), Marco Moretto (Hot 107 FM) e Marcelo Siqueira (Nativa FM).
Acácio Luiz Costa, com 42 anos de carreira no rádio e na televisão, reforçou que, apesar da evolução tecnológica, a essência do meio permanece a mesma: “O conteúdo é rei, como já dizia Bill Gates. Se entendemos o perfil da audiência, conseguimos oferecer experiências relevantes”.
Murillo Huada, diretor artístico da Band FM, destacou que o equilíbrio entre música, informação e carisma do comunicador é fundamental para manter a audiência engajada. Ele lembrou que a programação musical é um desafio diário, mas que deve considerar os momentos em que a prestação de serviço e a informação se tornam prioridade. Também ressaltou a força da interação com os ouvintes e a importância da presença de comunicadores com empatia e proximidade.
Marcelo Siqueira, diretor artístico da Nativa FM, observou que a internet ampliou o alcance do rádio além das barreiras geográficas, aumentando a responsabilidade das emissoras. Para ele, pesquisa, planejamento e adaptação constante são indispensáveis. “O rádio precisa estar atento a novas referências culturais e musicais sem perder sua essência e identidade”, afirmou.
Já Marco Moretto, da Hot 107 FM, lembrou que atuar fora dos grandes centros impõe desafios específicos, mas também abre oportunidades. Ele relatou que a emissora investe em personalização da linguagem digital e em estratégias de integração entre ações locais e iniciativas digitais: “O cross entre o físico e o digital entrega os melhores resultados para nossos parceiros comerciais”.
Os debatedores também refletiram sobre o uso da inteligência artificial nas rotinas das emissoras, apontando que a tecnologia já se mostra um apoio importante em várias funções, mas que é preciso senso crítico para aplicá-la com qualidade e sem perder a essência criativa do rádio.
Segundo Bufarah, dados da OIT indicam que 8,6% das empresas em países de alta renda podem ser impactadas pela automação via IA. O especialista ainda destacou que muitas emissoras podem, antes de adotar soluções avançadas, se beneficiar de tecnologias já disponíveis, como sistemas de CRM para relacionamento com ouvintes.
Tuta Neto, CEO da Sampi e diretor de novos negócios da Jovem Pan, afirmou que o meio de transmissão está cada vez menos relevante diante da força do conteúdo. “O que importa é a credibilidade da marca e a confiança do público. O rádio compete hoje também com influenciadores digitais em grandes eventos. A IA já está acessível a baixo custo, quem não adota perde competitividade e atrasa inovação”, disse. Para ele, o novo papel do jornalista é investigar, criar narrativas e desenvolver opiniões em múltiplos canais e formatos.
Carlos Aros compartilhou a experiência da Rede Jovem Pan, que há mais de uma década investe em transformação digital. Ele explicou que a emissora já utiliza conteúdo automatizado combinado a produções locais, potencializando a entrega ao público. “Hoje, estamos presentes em todas as plataformas, e isso exige acompanhar novas tecnologias”, afirmou. Aros destacou que a Jovem Pan já adota IA também nas redes sociais, seguindo padrão editorial, o que ajuda a escalar resultados. Segundo ele, os conteúdos da emissora já ultrapassaram 4,2 bilhões de visualizações. Ainda assim, reforçou que o maior risco é a aceitação acrítica de resultados da IA: “O jornalista precisa estar no comando. A curadoria humana é indispensável”.
Na parte da manhã, o painel trouxe um dos maiores desafios técnicos da radiodifusão: a intermodulação em sistemas de FM, especialmente em áreas onde múltiplas emissoras compartilham estruturas. A moderação foi de José Mauro Ávila (Mega Sistema de Comunicação), com participação de representantes da Anatel.
Marcelo Scacabarozi, gerente regional da agência em São Paulo, apresentou casos críticos, como o registrado em Vitória (ES), no Morro da Fonte Grande, que teve 38 reclamações de interferência em comunicações aeronáuticas, muitas relacionadas a rádios piratas. Houve situações de intermodulação passiva, com sinais interferentes mesmo após o desligamento de transmissores.
Outro caso citado ocorreu em Porto Alegre (RS), no Morro da Polícia, onde a Anatel precisou orientar emissoras a reduzirem potência como medida emergencial. Já Paulo Eduardo dos Reis Cardoso, coordenador de Inovação da agência, explicou que o Brasil conta hoje com 8.122 estações FM em operação, cobrindo quase todo o território nacional, e que a faixa de 76 a 108 MHz aumenta a chance de ocorrências. Ele alertou que até elementos como cabos, juntas metálicas e estruturas corroídas podem causar intermodulação passiva. O painel também destacou medidas de mitigação, como filtragem de sinais, análise espectral e melhores práticas na co-localização de sistemas, além da cooperação entre técnicos, reguladores e radiodifusores.
Painel “O Rádio Conectado e a Experiência Digital do
Ouvinte”
No começo da manhã do Dia do Rádio, o painel foi moderado por Marco Túlio Nascimento e reuniu Yann Legarson (Radioplayer Worldwide) e Fabián Zamarrón Moreno (Xperi Corporation). O encontro trouxe cases e soluções sobre a presença do rádio em veículos conectados e plataformas digitais.
Marco Túlio destacou que, embora o Brasil tenha testado padrões digitais há mais de 20 anos, o rádio conectado já é uma realidade via internet e dispositivos móveis, sendo fundamental a incorporação de metadados, elementos visuais e interatividade para manter a relevância.
Fabián Zamarrón apresentou o DTS AutoStage, plataforma híbrida gratuita que integra FM e conectividade IP, trazendo recursos como capas de álbuns, informações sobre artistas, letras de músicas e links para redes sociais. Também mostrou o Broadcaster Portal, que permite às emissoras controlar logotipos, descrições de programação e acessar dados analíticos em tempo real sobre audiência.
Yann Legarson detalhou a evolução do Radioplayer, que já integra rádios em 17 montadoras globais. Ele anunciou que a partir de 1º de novembro de 2025, todos os veículos Renault fabricados no Brasil sairão com o sistema embarcado, cobrindo cerca de 40% da frota nacional. O executivo alertou que, sem oferecer experiência digital comparável a serviços como Spotify e YouTube, o rádio corre o risco de perder espaço nos painéis automotivos.
Como exemplo, citou a funcionalidade híbrida que alterna automaticamente entre FM e streaming para manter a experiência contínua. Para os debatedores, a mensagem final foi clara: o rádio não precisa esperar um novo padrão de transmissão digital para evoluir — as ferramentas já disponíveis permitem enriquecer a experiência do ouvinte agora.
Repórter: TudoRádio