Ministerio das Comunicações e Anatel articulam base técnica para lançar TV 3.0 até a Copa de 2026

Transição para TV 3.0 envolve atualização regulatória, desenvolvimento de equipamentos e novos serviços conectados, com potencial de referência para outros países da América Latina.

01/10/2025



O lançamento da TV 3.0 no Brasil está sendo estruturado a partir de ações conjuntas do MCom e da Anatel, que coordenam requisitos técnicos, normas e testes para viabilizar o novo padrão até a Copa do Mundo de 2026. Esse foi um dos eixos do painel mediado por Paulo Henrique Castro, presidente da SET, na Futurecom 2025, que reuniu representantes do setor para debater como a iniciativa pode reposicionar a radiodifusão e servir de modelo para outros países da América Latina.

“O tamanho da radiodifusão brasileira é disparado o maior do mundo. São mais de 35 mil canais no plano básico, que atingem mais de 180 milhões de pessoas”, destacou Vinícius Caram, superintendente de outorga e recursos à prestação da Anatel. Ele frisou que 94% dos municípios brasileiros consomem TV aberta e que o novo modelo poderá impulsionar a inclusão digital ao se integrar com dispositivos móveis, satélite e serviços digitais.

Uma nova plataforma digital gratuita

A TV 3.0 propõe uma transformação profunda da experiência televisiva: imagem em até 8K, som imersivo com áudio 3D, interatividade por controle remoto, mosaicos de canais e login personalizado com recomendações de conteúdo e publicidade segmentada. “Tudo que fazemos com smartphone poderemos usar a TV como portal interativo. Será possível comentar a programação como em uma rede social”, apontou Caram.

A nova plataforma gratuita se configura como serviço de valor agregado e terá também potencial para comércio eletrônico, com recursos como pop-ups de compra durante a programação, além de alertas geolocalizados de emergência sem interromper a exibição. Wilson Diniz Wellisch, da Secretaria de Comunicação Social Eletrônica do MCom, enfatizou que “a principal mudança é o casamento definitivo da TV aberta com a conectividade”.

Com a perda significativa em receita publicitária, a radiodifusão busca sustentabilidade frente ao crescimento das plataformas digitais. Segundo Sergio Eduardo Santoro Bruzett, gerente de projetos da SET, em 2020 a TV aberta representava 55% da publicidade, com retorno estimado de R$ 4,70 por real investido para o PIB brasileiro — um impacto de R$ 230,4 bilhões.

O avanço da TV 3.0 visa reverter essa tendência, oferecendo métricas precisas de audiência com acesso logado e segmentação de campanhas. “Esse serviço dará sustentabilidade para a radiodifusão competir com os meios digitais”, reforçou Caram. A expectativa é que novos negócios surjam com a interatividade e que a televisão se torne catalisadora de consumo direto de produtos e serviços.

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Regulação em curso e cronograma

A Anatel finalizou estudos técnicos e reservou as faixas de 300 MHz para a operação da TV 3.0, após mapear mais de 15 mil canais ocupados e identificar a viabilidade de 12 canais complementares nessa faixa de frequência. Estações experimentais já estão ativas em São Paulo, Brasília e Salvador.

Segundo Caram, há 3 mil receptores protótipos que estarão distribuídos para testes. A regulamentação está prevista para o primeiro semestre de 2026, com normas ABNT, requisitos técnicos, padrões de transmissão, segurança e critérios de cobertura”. A meta é lançar comercialmente a tecnologia até a Copa do Mundo de 2026.

Wellisch confirmou que os receptores deverão suportar tanto os sinais antigos quanto os novos, e que fabricantes já acessam o draft da norma para iniciar a produção de set-top boxes. “O aplicativo da TV 3.0 terá o mesmo destaque de plataformas como a Netflix no televisor e será um canal para o governo oferecer serviços à população”, afirmou.

Inclusão digital e soberania tecnológica

Para o presidente da SET, o avanço da TV 3.0 está alinhado a uma convergência estratégica entre governo e indústria. “Gera inclusão digital, defende soberania e fortalece a democracia. Estima-se que a indústria investirá bilhões de reais, e esse movimento transbordará para as telecomunicações, que proverão links, cloud, IA e outros serviços.”

A escolha da tecnologia brasileira para a TV 3.0 permitiu compor uma arquitetura modular com componentes de última geração, incluindo antenas MIMO integradas aos televisores. A segurança de dados, conforme a LGPD, também foi apontada como prioridade desde o início da concepção do projeto.

O governo federal estuda a possibilidade de financiamento público — inclusive via Fust — para garantir capilaridade e acesso à nova tecnologia. A radiodifusão, com isso, ganha novo fôlego para competir em um ecossistema digital mais dinâmico e interativo, com potencial de ampliar conectividade, gerar empregos e estimular o desenvolvimento da indústria nacional de equipamentos.

Repórter: Tele.Síntese

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